Quem de nós não se comoveu, nos últimos dias, com as cenas trágicas do terremoto no Haiti? Essa é uma realidade que todo aquele povo está vivendo e sentindo na pele, enquanto que nós, brasileiros, e o restante do mundo, somos apenas solidários com a dor desses nossos irmãos.
Observadores distantes fisicamente que somos, em meio ao imenso contingente de ajuda que, dia após dia, vai chegando ao Haiti, de todas as partes do globo, levanta-se a questão que pudemos ouvir na mídia sobre a possibilidade, ou não, das centenas de brasileiros que se cadastraram junto à Embaixada daquele país, de adotar crianças órfãs haitianas: "Por que adotar um órfão de lá, quando temos em nosso país, tantos outros desamparados, negros, brancos ou pardos, aguardando em abrigos, à espera de pais que os queiram adotar?"
Ora, sem entrar na abrangência burocrática da questão ou nos trâmites legais necessários a este ato, , é certo que a reflexão faz sentido, que seria muito interessante resolvermos os problemas de nossa própria casa antes de partirmos à solução dos problemas alheios. Porém, talvez seja essa uma visão um pouco egoista sobre o mesmo fato, pois o fato mesmo é que os nossos órfãos estão sim, à espera de um lar, mas de alguma forma, já se encontram abrigados por mãos amigas nas diversas instituições onde estão localizados, enquanto que "os órfãos de lá" se encontram em situação de superlativo sofrimento, a que nada pode se comparar. Num país que quase foi "varrido" do mapa, quantos do Haiti estariam em condições de estender amparo a esses pequenos, já que eles mesmos são tão necessitados de ajuda?
E impedir que brasileiros ou cidadãos generosos de qualquer outra nação, abracem, pelas vias da adoção, os filhos haitianos, fará com que os mesmos interessados se voltem para os órfaos de sua própria terra? Talvez não... O amor tem dos seus mistérios, e a alavanca que o move nos corações humanos é insondável nos desígnios divinos! O que vale é o impulso do Amor que deseja abraçar, acolher e cuidar, não importando onde esteja o necessitado, mas valendo sim o poder de busca e atração que movimenta, atrai e aproxima o que têm daquele que nada têm.
Essa chama de solidariedade é que não pode se perder! Porque se ela se apaga não são somente os pequeninos do Haiti que se perderão nos entraves burocráticos das leis internacionais de adoção, mas perderá também o Homem em sua própria Humanidade, na grandiosa chance de exercer o Amor e o Bem. Perder-se-á, enfim, o ponto positivo com Deus, de praticar o Amor quando ele é tão necessário!
Perdemos mesmo, um pouco disso tudo, todos nós.
Abraço fraterno
da Ju